ANOTAÇÕES AOS POEMAS
"A Sombra Do Frio Na Parede (Edições Mortas) de Alberto Pimenta
é um diálogo entre alguns dos principais poemas do autor publicados
na década de 70 (o labirintodonte, os entes e os contraentes, corpos estranhos,
ascensão de dez gostos à boca) e algumas das ideias expressas sobre
eles, num fundo das valsas avulsas pelas paredes de Lisboa".
A comunicação que se estabelece entre o poema reeditado e as anotações
do autor assenta num sortilégio irónico (Pág. 60):
tem o que tem
e o que ainda não tem
fofa e moça
ao meio oca para
pôr a cedilha a flutuar, chama-se
Maria do prado e para ir directo
ao fundo da questão
ninguém mais além do cão cheira o
cálice consagrado.
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Nota - O risco de infecção durante a prática sexual
com animais não é ainda bem conhecido. De qualquer modo é
melhor evita-la, pelo menos durante a gravidez. Ouviste, filha? - Ouvi. Mas com
focas-bebé é diferente, não é? - Os ecologistas dizem
que sim, mas eu não sei, filha.
O importante é não lhe tirares os olhos de cima, está em
moda sequestrar animais de estimação.
A anotação em nota rodapé constrói uma linha transversal
de evidencias que remete para derivações rasteiras, contagiantes,
que ao exibirem mesquinhez, cretinice?, são um interessantíssimo
processo de combater a literatura estereotipada.
Como já escrevi: Poética da insurreição dos arquétipos,
da descoberta caracteri-zadora da escrita, a obra de Alberto Pimenta é
lúdica e lúbrica.
Mais uma oportunidade de o leitor ler o calcinante Alberto Pimenta.
Em: Jornal de Notícias - 16 Jul 1996
Autor:Alberto
Pimenta, "A Sombra do Frio na Parede", Edições Mortas
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